Era aquele tipo de garota. Chorava todas as noites por me sentir insuficiente, distribuía sorrisos para esconder a solidão, e tinha certeza de que não deveria confiar em ninguém. Em alguns momentos, até desacreditei no amor, no felizes-para-sempre, naquele alívio no peito que um abraço transmite. E então você apareceu.
Acreditava que tudo o que você me fazia sentir não passava de uma ilusão inocente que o coração dá vez ou outra apenas para não perdermos a fé, e estava lidando com isso de forma até um pouco saudável. Mas aí, você me viu - tão transparente, tão real. Você enxergava minhas dores e elas não te afastavam. Na verdade, elas te aproximaram ainda mais. Pensei que era pura curiosidade, eu não passava de uma novidade que, depois de alguns dias de observação, você deixaria e partiria em busca de novas, restando à mim apenas viver de memórias que doíam e provocavam sorrisos nostálgicos. Você desapareceria. E, se nos encontrássemos na rua, por acaso do destino, diria apenas um “você não mudou nada”, ou pior,  ”você mudou tudo”, e cada um seguiria seu rumo. Você para a direita, e eu para a esquerda. Cairia de novo, até me recuperar e continuar esse ciclo igual, com outros - que não importarão, porque nenhum me viu como você. E de novo, você mudou tudo.
Você me apertou em seus braços e dissipou minhas dúvidas. Você não me prometeu o felizes-para-sempre, mas me trouxe a certeza do felizes-enquanto-durar, e isso é tudo o que preciso agora. Você é tudo o que preciso agora. Não sei ao certo quando aconteceu, mas desejo com todas as minhas forças que demore para acabar. Porque você me deu a mesma vontade de viver de quando era apenas uma criança inocente empolgada para crescer e mudar o mundo. Você despertou todas as minhas faces que se esconderam para o resto do mundo não ferir. Com você, eu sou tudo o que consigo, e tudo o que quero ser. Meus pesadelos voltaram a ser sonhos e deixei de sentir raiva de todas as coisas que eram mais felizes do que eu. Ninguém é mais feliz que eu, porque tenho você. Eu tenho tudo.
(BoaNoiteCinderela, Gabriela S. Santarosa)